Santo Afonso Maria de Ligório, o fundador da Congregação Redentorista, foi um grande devoto do Sagrado Coração de Jesus. Dedicou parte de suas obras a esta devoção, das quais retiramos este trecho abaixo:
A devoção das devoções é o amor a Jesus Cristo, com a recordação frequente do amor que nos dedicou e ainda dedica o nosso amável Redentor. Com razão se queixa um devoto autor de que muitas pessoas praticam diversas devoções e se descuidam desta, ao passo que o amor de Jesus Cristo deve ser a principal, para não dizer a única, devoção do cristão? Este descuido é causa do pouco progresso que as almas fazem nas virtudes, da contínua languidez nos mesmos defeitos e das frequentes recaídas em culpas graves. Pouco se aplicam, e raras vezes são exortadas a adquirirem o amor a Jesus Cristo, sendo todavia o amor o laço que une e liga as almas a Deus.
Foi exatamente para se fazer amar que o Verbo Eterno quis que se instituísse e propagasse na Igreja a devoção a seu Sacratíssimo Coração. Lemos na vida de Santa Margarida Maria Alacoque, que, quando esta devota virgem estava um dia em oração diante do Santíssimo Sacramento, Jesus Cristo lhe mostrou o seu Coração num trono de chamas, cercado de espinhos e encimado por uma cruz. “Eis aqui”, disse ele, “o Coração que tanto amou os homens, e nada poupou até se esgotar e consumir para lhes testemunhar o seu amor; e em reconhecimento, não recebe da maior parte senão ingratidões e irreverências neste Sacramento de amor. Mas, o que ainda mais sinto, é serem corações a mim consagrados que assim praticam”.
Ordenou-lhe em seguida, que se empregasse em fazer celebrar, na primeira sexta-feira depois da oitava da festa do Corpo de Deus, uma festa particular em honra do seu divino Coração, e isto para três fins: O primeiro, para que os fiéis lhe deem ações de graças pelo grande dom que lhes fez na adorável Eucaristia. O segundo, para que as almas fervorosas reparem, pela sua afetuosa devoção, as irreverências e os desprezos que ele recebeu e recebe neste Sacramento da parte dos pecadores. O terceiro, enfim, para que lhe ofereçam compensação pela honra e culto que os homens deixam de lhe dar em muitas igrejas. Assim, a devoção ao Coração de Jesus não é senão um exercício de amor para com este amável Senhor.
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Promessas
Para compreendermos os bens imensos que nos provêm da devoção ao Coração de Jesus, basta que nos lembremos das promessas feitas por Jesus Cristo aos que a praticarem.
“Eu”? assim disse o Senhor a Santa Margarida? “darei aos devotos do meu Coração todas as graças necessárias para o cumprimento dos deveres do seu estado; farei reinar a paz nas suas famílias; eu os consolarei nas suas aflições e lhes serei um refúgio na vida e na morte; lançarei abundantes bênçãos sobre todas as suas empresas, e o que no passado não puderam realizar com as suas diligências repetidas e perseverantes, obtê-lo-ão por meio desta devoção salutar”.
Se nós também queremos ter parte nestas promessas, avivemos a devoção ao Sagrado Coração, especialmente neste mês que lhe é consagrado. Guardemo-nos, por amor dele, das faltas deliberadas; pratiquemos alguma mortificação interna e externa; visitemos a miúde o Santíssimo Sacramento e preparemo-nos para a festa do Sagrado Coração por meio de uma devota novena. Cada manhã unamos as nossas ações do dia com as do divino Coração de Jesus, e façamos o oferecimento delas, dizendo:
† “Meu Senhor Jesus Cristo, em união com a divina intenção com a qual destes, na terra, louvor a Deus por vosso Sacratíssimo Coração, e lh’o continuais a dar agora sem interrupção até a consumação dos séculos, por todo o universo, no sacramento da Eucaristia, eu também, durante todo este dia, sem excetuar a mínima parte dele, à imitação do santíssimo Coração da Bem-Aventurada Virgem Maria Imaculada, Vos ofereço com alegria todas as minhas intenções e pensamentos, todas as minhas afeições e desejos, todas as minhas obras e palavras. † Amado seja por toda a parte o Sagrado Coração de Jesus. † Louvado, adorado, amado e agradecido seja a todo o instante o Coração Eucarístico de Jesus em todos os tabernáculos do mundo, até à consumação dos séculos. Assim seja.”
LIGÓRIO, Afonso Maria de. Meditações: Para todos os Dias e Festas do Ano: Tomo Segundo: Desde o Domingo da Páscoa até a Undécima Semana depois de Pentecostes inclusive. Friburgo: Herder & Cia, 1921, p. 338-341.