O Coração de Jesus e os Redentoristas

Imagem do Sagrado Coração de Jesus da Igreja da Glória

A devoção ao Sagrado Coração de Jesus vem desde os primórdios da Igreja e tem sua inspiração nas Sagradas Escrituras: “Vinde a mim, todos vós que estais cansados e carregados de fardos, e eu vos darei descanso. Tomai sobre vós o meu jugo e sede discípulos meus, porque sou manso e humilde de coração, e encontrareis descanso para vós. Pois meu jugo é suave e o meu fardo é leve” (Mt 11, 28-30). Jesus constata que a Lei havia se tornado um fardo extremamente difícil de ser carregado pelos pobres porque esta foi acrescida de muitas outras normas menores que impossibilitaram o povo simples de fazerem seu encontro com Deus. Assim, Jesus se identifica com este pobre, manso e humilde de coração, mas lhe oferece uma alternativa à pesada carga imposta pelos acréscimos posteriores de mestres da lei e rabinos: ser seu discípulo é o caminho para ter os cansaços e dores aliviados!

Esta bela espiritualidade do Coração de Jesus que acolhe as dificuldades e sofrimentos dos cristãos atravessou os séculos, mas, no século XVII ela tomou as características que chegaram até nós. Esta devoção moderna foi uma inspirada resposta a um difícil contexto para a vida cristã: o rigorismo moral e a terror causado pela certeza de que a salvação não seria alcançada por todos, mas, por pequeno número de eleitos – esta espiritualidade pessimista era compartilhada pelos protestantes e por católicos via influência jansenista, amplamente combatida pelos jesuítas e, posteriormente, pelos redentoristas. Pelas missões modernas a devoção ao Sagrado Coração de Jesus foi amplamente difundida na Europa e por suas colônias mundiais pelas pregações dos missionários e consolidada pelo estabelecimento de associações leigas do Sagrado Coração de Jesus e do Imaculado Coração de Maria.

Embora enfrentando muita resistência por católicos rigoristas e por parte do clero, a devoção ao Sagrado Coração de Jesus chegou ao Reino de Nápoles em fins do século XVII (1686) sobretudo pela ação das Irmãs Visitandinas e ganhou raízes pelo culto promovido pelos jesuítas e pelos pios operários. No que diz respeito aos redentoristas, nascidos apenas no século XVIII (09 de novembro de 1732), esta devoção esteve presente desde o início por conta do diretor espiritual do nascente instituto missionário, Dom Falcóia, da farta literatura fornecida por jesuítas e, sobretudo, pela espiritualidade do Fundador, Santo Afonso Maria de Ligório (1696-1787), um entusiasta e divulgador da mesma.

Uma das formas de que Santo Afonso lançou mão para a divulgação da devoção ao Sagrado Coração de Jesus foi a fundação da Congregação Redentorista: herdando práticas da missão moderna, também os redentoristas nutririam forte apreço pelo Sagrado Coração de Jesus em suas missões populares e na criação de associações leigas sob este patrocínio. Esta herança afonsiana chegou inclusive com os redentoristas holandeses no Brasil que, resguardados pela Regra de Vida da Congregação, tinham a incumbência de acompanhar e/ou fundar associações de leigos nas missões ou em suas paróquias, dentre as possíveis, as do Sagrado Coração de Jesus. Outra forma foi a escrita: Santo Afonso compôs uma Novena do Sagrado Coração de Jesus e em sua obra devocional mais conhecida, Visitas a Jesus Sacramentado e à Virgem Maria, dedica as visitas do dia 24 ao dia 31 ao Sagrado Coração de Jesus. Assim, já em 1745, Santo Afonso deixava clara sua íntima relação com o Coração de Jesus, pois esta devoção expressava também a Copiosa Redenção.

Sua aproximação de Jesus sacramentado é pela via do coração, ou seja, do amor: “Amado Redentor, quando considero o vosso amor aos homens, fico fora de mim e não sei mais o que dizer” (Visitas 24). Este coração aberto ao amor é capaz de dialogar amorosamente de coração a Coração, pedindo as graças da humildade e da mansidão: “Coração humílimo de Jesus, ensinai-me a vossa humildade. Coração cheio de mansidão, comunicai-me a vossa doçura. Tirai do meu coração tudo o que vos não agrada […]”, num ardoroso desejo de que o Sagrado Coração de Jesus seja o único senhor de seu coração (Visitas 25); que resulta na conversão total de sua pessoa a Cristo: “bani do meu coração todos os afetos que não tendem para vós. Aqui me tendes, eu me entrego inteiramente a vós […]” (Visitas 26) e acrescenta: “Meu Jesus, meu tudo, quereis que eu seja vosso, eu quero, também que sejais meu” (Visitas 28).

Como missionário, Santo Afonso compreende que o processo de conversão é demorado e, por isso, louva uma importante característica do coração amoroso, a paciência: “Ó paciência do meu Jesus, como sois grande! Ah! Compreendo-vos, Senhor; vossa paciência é grande, porque o vosso amor aos homens não tem limites” (Visitas 27). Ademais, torna-se necessário que o fiel entenda que a única coisa que ele pode oferecer ao Sagrado Coração é o seu próprio coração: “[…] me aproximo desse trono de vosso amor e, não tendo outra coisa para vos oferecer, apresento-vos o meu miserável coração […]. Com este coração eu posso vos amar; com este coração eu quero vos amar, quanto me for possível” (Visitas 29).

Ao amado Coração que acolhe o coração pequeno e frágil dos seres humanos, cria-se uma relação de profunda e mística amizade: “[…] meu Rei e Senhor aqui oculto, permiti que eu vos abra o meu coração cheio de confiança e vos diga: Meu Jesus, terno amigo de nossas almas […]” (Visitas 31). Uma união que é capaz de deixar todas as futilidades ou coisas que desagradem ao Amante pelo simples fato de contentá-lo: “Feliz é a perda, quando tudo se perde e tudo se sacrifica para contentar o vosso Coração, Deus de minha alma” (Visitas 31).

Por fim, terminemos orando com o Santo: “Coração amoroso do meu Jesus, digno de possuir os corações de todas as criaturas; Coração sempre repleto de chamas do mais puro amor, ó fogo abrasador, consumi-me inteiramente e dai-me uma vida nova, toda de amor e de graça! Uni-me de tal maneira a vós que nunca mais de vó me separe” (Visitas 30).

REFERÊNCIAS:
CONSTITUIÇÕES E ESTATUTOS CSSR. Aparecida, 2004.
CONSTITUIÇÕES E REGRAS DA CONGREGAÇÃO DO SANTISSIMO REDEMPTOR. Aparecida, 1927.
CHIOVARO, Francesco (org.). História da Congregação do Santíssimo Redentor. As origens (1732-1793). Aparecida: Santuário, 2019.
MARTINA, Giacomo. História da Igreja. De Lutero a nossos dias: o período da Reforma. São Paulo: Loyola, 1995.
SANTO AFONSO. Visitas a Jesus Sacramentado e a Nossa Senhora. Aparecida: Santuário, 1985


Autor: Pe. Bruno Alves Coelho, C.Ss.R

Fonte: www.provinciadorio.org.br

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