São Clemente: pobre entre os pobres

São Clemente Maria Hofbauer, cuja festa celebramos no dia 15 de março, abraçou a pobreza consagrada como uma amiga de quem jamais se separou. Ele nasceu pobre, viveu pobremente e cuidou dos pobres. Jamais a vida religiosa e clerical lhe proporcionou qualquer privilégio material. Podemos afirmar que ele não precisou fazer nenhuma opção pelos pobres, porque nunca saiu da pobreza e do meio deles, com quem repartiu seus bens materiais e, principalmente, espirituais.

A pobreza em família
São Clemente foi levado a “participar da insegurança e da penúria dos pobres” desde a sua infância. Nono entre 12 irmãos, São Clemente vê seu pai falecer antes de completar 7 anos. Começou então a luta pela sobrevivência de uma família numerosa, em que os filhos tinham que envolver-se no trabalho diário para não faltar comida para todos. Teria sido a precariedade de bens a ceifar a vida de 7 dos seus irmãos ainda crianças? Mesmo sonhando em ser sacerdote, São Clemente jamais teria condições de pagar seus estudos. Já adolescente, procurou a profissão de padeiro, para dar ajuda financeira à sua família. Assim o binômio pobreza e trabalho moldou o estilo de vida de São Clemente. Como Redentorista sentiu-se “obrigado à lei do trabalho” e foi sempre um trabalhador incansável para garantir a sobrevivência dos seus confrades e dos seus pobres.

A pobreza em seu caminho vocacional
São Clemente viveu 69 anos, mas nada em nenhum momento foi fácil para ele. Teve que lutar muito, e somente sua fé e tenacidade venceram os obstáculos e a precariedade constantes. Para realizar seus estudos, empregou-se como padeiro em um mosteiro. Quando terminou o curso, viu-se novamente sem recursos para seguir adiante. Como ansiava entregar-se a Deus totalmente, decidiu ser eremita. Com 24 anos, começou uma experiência de eremita e de peregrino, que vai se estender por 9 anos. Essa experiência de pobreza e de insegurança o levou a uma intimidade e uma confiança total em Deus, ao mesmo tempo em que o encorajava a enfrentar as surpresas boas e ruins dos caminhos que percorria, sem nunca desanimar. Somente aos 32 anos, já adulto, conseguiu prosseguir em seus estudos, e, enfim, aos 33 anos, peregrinando mais uma vez a Roma, dá-se o encontro com os Redentoristas, o que marcou o seu ponto de chegada vocacional e o seu ponto de partida missionária. Noviciado e Ordenação se juntaram no período de um ano, e, numa reviravolta jamais prevista, São Clemente, aos 34 anos, e Pe. Tadeu Hübl partem para o norte como sacerdotes redentoristas, sem dinheiro e sem destino certo.

A pobreza em sua pastoral missionária
São Clemente inaugurou a primeira fundação redentorista transalpina em São Beno, na periferia de Varsóvia, com uma pequena igreja e uma casa muito simples. Ali os três primeiros redentoristas não italianos lançaram a semente da Congregação redentorista que mais floresceu e irradiou o carisma de Santo Afonso por todos os continentes. Não lhes faltavam os pobres nem o ardor missionário por Jesus, mas não tinham liberdade para pregar missões populares, como na Itália. Não se acomodaram diante dessas limitações e tiveram a sabedoria de iniciar uma missão permanente na Igreja de São Beno, em que o ministério do acolhimento contínuo e das celebrações bem cuidadas se irradiavam e atraíam a todos. Na pobreza de vivenciar o carisma missionário de Santo Afonso, São Clemente achou um modo de anunciar o Evangelho com ardor sempre novo.

A pobreza como cuidado com os pobres
São Clemente “era chamado de ‘pai dos pobres‘; e de fato os pobres, os abandonados e os marginalizados encontravam nele um companheiro e um amigo sincero. Viveu junto dos pobres, sendo pobre ele mesmo, e partilhando generosamente com eles o que possuía. Com frequência passava um bom tempo com os enfermos e moribundos, preparando-os através do sacramento da reconciliação para seu encontro com Cristo Redentor.” (Carta do Pe. Geral, 02/02/2020). Em Varsóvia, São Clemente identificou esses pobres abandonados nas crianças pobres, principalmente nos órfãos, frutos de tantas guerras. Acolheu-as como lhe foi possível e se desgastou para dar-lhes de comer, oferecer-lhes formação escolar e catequizá-las. Sua imagem batendo à porta do sacrário, pedindo comida para as suas crianças, é um ícone do seu amor afetivo e efetivo pelos pobres. Essa mesma sensibilidade ele passava à sua comunidade, para que jamais deixasse de oferecer alimento aos pobres que batiam às suas portas.

A pobreza na comunidade redentorista
A comunidade de Varsóvia dependia inteiramente do trabalho de cada confrade e dos benfeitores que a acudiam nos momentos de crise. Muitas vezes, São Clemente assumia a cozinha para preparar as refeições para seus confrades. Possuíam uma moradia pequena demais para o número crescente de membros. Mesmo assim, ainda era dividida com os órfãos. São Clemente, mesmo tendo uma comunidade internacional, com membros de países invadidos e de países invasores, manifestava uma estima muito grande pelos confrades e os julgava a todos santos. Durante as perseguições e injustiças que sofreram, S. Clemente apelou a Deus e a todas as autoridades possíveis para proteger sua comunidade. Sabemos que foi em vão e eles foram obrigados a se dispersarem.
A solidariedade de São Clemente com os confrades da Itália o levava a colaborar economicamente com eles, apesar de toda a sua penúria, principalmente para que pudessem custear a canonização de Santo Afonso.
Sem dúvida, São Clemente pregou o que viveu e viveu o que pregou. Ele tinha a coragem de quem confia de que “é Deus quem dirige tudo”. Por isso, podia insistir em seu lema: “Anunciar o Evangelho de modo sempre novo!” Sua pobreza constituiu sua riqueza missionária, a partir da qual permitiu que Deus operasse maravilhas através da sua história e do seu dinamismo missionário. Sua própria morte foi seu último ato de pobreza, porque dela brotou a árvore frondosa da Congregação Redentorista em todos os cantos do mundo. Por isso, vale a pena homenageá-lo como cofundador da nossa família missionária, cujo carisma se soma e complementa o carisma fundacional de Santo Afonso.

Fonte: UM SÓ CORPO, Centro de Espiritualidade Redentorista.

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