Psicoecoafetividade: por uma ecologia integral

Desde as serras azuis de Congonhas (MG) a altares dos picos da Serra de Ouro Branco acontecia uma sagrada integração nossa. As alturas e nós. Nós e a variedade de seres vivos, plantas e animais. E mais: os banhos de cachoeira, o nadar nos remansos dos rios e acampar. Tantos panoramas na diversidade dos lugares, diversidade de flora e fauna, com muitas surpresas. A Serra de Ouro Branco permaneceu a preferida, a mais visitada, a melhor conhecida. De 1947 até dois anos antes da pandemia de Covid-19, o contato regenerador com a natureza: corpo sadio, mente sadia, coração sincero.
Nos acampamentos, a certeza: o que era terra, na terra ficava, em cova enterrado. O que terra não fosse, voltava em sacos para casa e nós, renovados, restaurávamos o corpo e a inteligência. Voltávamos carregados de imagens na retina dos olhos e na memória agradecida: as fogueiras da noite, quentinhas, histórias e canções. Alguma noite de luar. Olhos arregalados para beber as luzes do amanhecer e rezar. Aquela doce melancolia do pôr do sol e outra vez a oração. O céu estrelado e as constelações. Algum susto na caminhada do dia: há vez em que a panela de feijão se espalhou pelo chão. O riso alegre no hasteamento da bandeira branca quando as cordas se partiram.
Ora se deu que aconteceu dois anos antes da pandemia um excelente acampamento na Serra de Ouro Branco. Tudo montado no dia da chegada. Que capricho dos 19 participantes! No entardecer do primeiro dia – pleno de “à vontade” – um fogo criminoso vindo dos dois lados nos ameaçava. Entre apreensivos e hesitantes, vigiávamos. Apareceram três homens da vigilância a exigir rapidez e partida imediata. Desmontamos o acampamento. Apenas saídos do descampado, o fogo secou o lugar pelos quatro cantos. A Serra de Ouro Branco ardeu por quatro dias. Desastre! As TVs mostraram a fúria da devastação. Algo se quebrou no meu coração. Talvez alguns de nós, em novembro próximo, iremos lá e acamparemos. Talvez reencontremos a bela natureza. Refeita! Há dúvidas.
E a meio dessa história germinou O GRITO DA TERRA, a Carta da Terra, e a surpresa linda da Encíclica LAUDATO SI do Papa Francisco. Indagar é preciso: como superar a perigosa rota de colisão entre os humanos e o Planeta Terra? Propostas vêm sendo apresentadas. Você já conhece o texto de Francisco?
ECOLOGIA, é sim, um caminho de cuidado com a Casa Comum, este azul planeta girando no fascinante cenário do Universo. O pequeno planeta Terra na imensidão gritando que tudo está em relação e que a vida é comunhão. Seres vivos e viventes só neste planeta Terra: a Casa de todos.
Quem, como nós, desde cedo, se sentia mais integrado e em comunhão com a inteira natureza, sabe e se alegra com a proposta de uma ESPIRITUALIDADE ECOLÓGICA. Papa Francisco: – “pois aquilo que o Evangelho nos ensina tem consequência no nosso modo de pensar, sentir e viver.” (Laudato Si nº 216). Consciência amorosa, cuidado generoso, estilo de vida e pequenos gestos diários que se somam às estratégias a favor do meio ambiente. Eis-nos no amor social e em comunhão com todo o universal.
Para a maioria, é quase certo que a Espiritualidade Ecológica requer uma CONVERSÃO ECOLÓGICA que supõe “educação ecológica”. Felizardos nós que desde 1947 éramos amorosos com a natureza. Pura vivência que a maioria desconheceu. Educação Ecológica muito importa. Quanto importa ser parte desta Aliança entre a humanidade e o meio ambiente. (L.S. nº 209-215) E mais: esta espiritualidade implica que se cuide deste outro planetinha, vermelho ele e pulsante, chamado mundo dos afetos, morada das pulsões. É onde mora o Amor: bate, bate coração! Cuidar da ecologia dos afetos através de um projeto de vida cristã, escolha de nossa liberdade: crer e saber viver sem destruir e descuidar do bom, do verdadeiro, do belo.
E a Terra segue girando, a pedir mentes abertas, unificando o jeito de ser-com e ser-para a Missão de cada vida. Quem entende a LUZ do Universo sabe de Deus-criador. Quem percebe as trevas dos caminhos cuida da força redentora que Jesus nos traz. Ecologia Espiritual à luz da Ressurreição de Jesus Cristo, o Senhor dos tempos. O Cristo cósmico. Se buscamos desfrutar de uma vida bem vivida no tempo aqui nesta Terra, há que cuidar do coração da Terra e do coração humano.
Como me é fácil perceber: estamos em uma viagem intensa, vibrante, surpreendente dependendo de nossa criatividade. Então, como não nos importar com o padecer da Terra e com as dores dos humanos humilhados ou empobrecidos? Terra devastada, gente sem terra e teto. A Espiritualidade Ecológica é integral: onde houver sofrimento haja transformações por melhor vida. Somos uma Comunidade de vida: nós e entre nós, nós e o meio ambiente. Somos cultivadores. Deus é o DONO. O Universo e a Vida na Terra são presentes que recebemos. Há que cuidar de tudo e do todo. Somos sócios corresponsáveis para cuidar do sagrado mistério da VIDA. E jamais esquecermos da Encarnação de Deus em Jesus de Nazaré, nosso Senhor Jesus Cristo. Deus morou no planeta Terra e mostrou amor pela Vida!
VIVER em comunhão plena. Nosso viver é uma modalidade eucarística: agradecidos alimentamos o Planeta, nutrimos uns aos outros e somos alimentados, Deus de todos cuidando. Que comunhão em reciprocidade: vida circulante. A dança do bem-querer. Façamos isto assim: em memória DELE! Somos todos frágeis: o Planeta e Nós, humanos.

Rezemos!

Senhor, Deus da vida, estamos em crise. Vós nos destes nesta Casa Comum, Jesus de Nazaré a trazer-nos as chances da vida plenificante. Ele é o Caminho. Louvado sejais, Deus de Amor.
Dai-nos, ó Pai nosso, a chance de nos convertermos, saindo das estreitezas de nosso quintal. Que sejamos filhos e filhas vossos conscientes e capazes de reconhecimento e gratidão. Dai-nos reverência por tudo o que é vida.
Pai, soltai as amarras que nos prendem às aberrações do produzir e do consumir. Que, livres, conheçamos a sobriedade e a medida boa entre Ser e Ter, entre possuir e repartir.
Livrai-nos, Pai Santo, da pressa e das sobrecargas num ritmo cotidiano de vida que nos furta o tempo para a convivência amorosa e social. Que realizemos os atos cotidianos em família no ritmo das boas conversas e do estarmos à mesa, serenados. Livrai-nos também de sermos alheios aos modos como escolhemos nossas autoridades para zelar pelo bem de todos. Boa parte dos eleitos se perde na mediocridade de seus próprios interesses. Perdão por nossas más escolhas. Elas comprometem a degradação das condições de vida nossa e do Planeta.
Deus, Senhor da História, ao Vos invocar como PAI NOSSO, que renasça e se revigore em nós o impulso para o ALTO, vosso Coração de ternura e misericórdia. Sois consolo ao dar a todos o pão nosso de cada dia. Pão material, pão do perdão, pão eucarístico. Que não falte pão quando as famílias de reúnem. Que distribuamos o pão que tivermos em abundância. Dai-nos a fome do que é definitivo e eterno!
Pai, que sejamos bem-aventurados, permanecendo fraternos, compartilhando. Abri-nos ao amor social.
Pai, olhando-Vos nos céus eternos, saibamos olhar bem perto de nós as necessidades de tanta gente.
Que venha o Vosso Reino! Amém!

P.S. Leitora, leitor, você já experimenta a conscialização e atualização da sua vida cristã?

Pe. Dalton Barros de Almeida, C.Ss.R.

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