Mãe do Perpétuo Socorro

O Ícone da Imaculada Mãe de Deus “Virgem da Paixão”, venerado atualmente na igreja do Santíssimo Redentor e de Santo Afonso em Roma, é de origem cretense. Começou a ser exposto ao culto público em 1499 na Igreja de São Mateus Apóstolo, dos frades Agostinianos. Ao ser destruída esta igreja em 1798, passou à de Santo Eusébio (1798-1819) e daí à de Santa Maria in Postérula, também da Ordem Agostiniana, onde esteve meio esquecido até 19 de janeiro de 1866. Neste dia foi entregue, por disposição pessoal do Papa Pio IX, aos Redentoristas da Casa Generalícia para ser exposto de novo em sua igreja da Via Merulana. Esta instauração do culto teve lugar a 26 de abril de 1866 e marca o começo de uma devoção mariana nova. O ícone foi adquirindo uma importância cada vez maior para os Redentoristas e foi projetando-se também sobre toda a vida da Congregação, de modo que será difícil escrever a sua história a partir desta data se prescindimos do “seu ícone”.
Uma das suas características se deve ao título da devoção que dele foi surgindo naqueles que, ao buscar em meio à dor o Socorro Perpétuo de Maria, acorrem a ela esperando um socorro maternal e perpétuo ante as mais diversas necessidades da vida. Deste modo, o Ícone pode projetar, sobre todos os que se deixam contemplar por ele, as “relações curadoras” de Maria com seus devotos. É o que refletem todos os ícones nos quais Maria expressa o amor com que Deus nos ama, a nós e a seu próprio Filho. Pois quando Jesus, cheio de medo, se refugia nos braços de sua Mãe, descobre também nela uma manifestação da profundidade com que o Pai o amava. Ao rezar com o nosso ícone, imploramos o socorro perpétuo de Jesus e de Maria como manifestação suprema do amor de Deus.

Um verdadeiro ícone da Mãe de Deus
Desde o começo do seu culto em Roma, o nosso ícone foi considerado como imagem milagrosa, mas esta veneração não projetou sobre a devoção mariana a dimensão teológica de que era portadora enquanto ícone. Isto só se começou a apreciar na medida em que se ia descobrindo o valor dos ícones. Daí a necessidade de considerar alguns aspectos relacionados com esta característica da devoção a Nossa Senhora do Perpétuo Socorro.
O ícone original, como diz a tradição e de acordo com as suas características artísticas, provém da Ilha de Creta (antigamente chamada também Candía). A sua origem artística está relacionada com a emigração dos iconógrafos de origem bizantina que se refugiaram na ilha fugindo dos turcos e pondo-se sob a proteção de Veneza. Daí, esse tipo de imagens religiosas pós-bizantinas estendeu-se por todo o mundo cristão chegando a Veneza. Roma, Madri, Toledo etc.
Portanto, o transporte do ícone para Roma pode ter tido uma dimensão “comercial”, o que nos obriga a ler com sentido crítico os relatos piedosos que sobre ele se fizeram nos séculos XVI-XVIII. Mas o que nunca devemos esquecer é a herança pós-bizantina de que ele é portador. A Escola de Andreas Ritzos de Candía (+1492), nosso Ícone (1499) e El Greco (1540-1614), que começou pintando ícones nessa escola, poderiam ser três pontos emergentes de uma reflexão que nos permite integrar este humilde ícone na grande História da Arte, para assumir a partir dela a sua contribuição à iconografia, à espiritualidade e à cultura religiosa.

Imagem devocional que cria um espaço de oração
O ícone transformou-se num elemento fundamental da missão redentorista, especialmente através das missões populares. A imagem de Nossa Senhora do Perpétuo Socorro foi tornando-se centro de oração extraordinária a Maria durante a missão; e a sua Arquiconfraria (fundada a 31 de março de 1876), a associação cristã chamada a potenciar os resultados pastorais da mesma. Isto explica a presença da imagem, da devoção e da arquiconfraria em muitas igrejas e capelas como “lembrança da missão”; a importância dos tríduos, das novenas e das procissões em honra da Virgem do Perpétuo Socorro como instrumentos para renovar periodicamente os frutos da missão; e a diversidade de materiais destinados a satisfazer as exigências pastorais e devocionais de quanto precede.
Esta difusão universal lhe obteve também um espaço oracional próprio, definido pelos altares que lhe foram erguidos nos santuários, ermidas, “capelas domésticas”, nichos e pelas mais diversas formas da piedade popular: quadros, estampas, medalhas, etc. O lugar próprio para a veneração dos antigos ícones era o iconostásio litúrgico. O ícone e as imagens do Perpétuo Socorro podem se encontrar também em altares, carros de procissão, capelas, lares, etc.
A criatividade pessoal dos artistas, sem prescindir dos elementos simbólicos fundamentais que supõe o ícone original, foi acomodando-o à estética de cada época, estilo, escola ou região, privando-o, mais de uma vez, da linguagem estética própria dos ícones. O Ícone Missionário foi se difundindo pelo mundo inteiro em cópias fiéis do original e, sobretudo, em interpretações artísticas do mesmo com as mais diversas formas e estilos. Todas estas reproduções, sem embargo, nos remetem, ao título e ao simbolismo iconográfico original com a teologia e a espiritualidade próprias dos ícones.

Simbolismo e significado dos elementos iconográficos
O nosso ícone pertence ao tipo das Virgens da Paixão. O Arcanjo Gabriel (Ο ΑΡ Г, à direita) é o anjo da Anunciação (Lc 1,26-38) o o Arcanjo Miguel (О АΡ М, à esquerda), o protetor de Maria e do Povo de Deus (Dn 12,1). Ambos mostram a Jesus os instrumentos da Paixão. Mas em nosso ícone mantêm também referências aos ícones da Anástasis ou Ressurreição, nos quais Cristo desce aos infernos para redimir a Humanidade e elevá-la consigo em sua ascensão ao Pai. Conforme a interpretação dos iconógrafos, este anúncio ou presságio da paixão mantém também a atitude pascal dos arcanjos, mas torna-se necessária uma explicação. Esta nos permite ver em nosso ícone, o “Ícone do Angelus” e o “Ícone do Laetare” ou da antífona pascal “Regina Coeli, laetare, alleluia” (Rainha do Céu, alegrai-vos, aleluia). Maria, a Mãe de Deus (ΜР ΘΥ: Meter Theou), a Amóluntos ou Imaculada, sustenta a Jesus e olha para quem a contempla. Na sua fronte traz as estrelas da Trindade (à esquerda) e da Natividade (à direita). Jesus Cristo (ΙС ΧС: Iesous Xristos) olha para o horizonte, contempla o anúncio de sua paixão dolorosa à luz gloriosa da Páscoa, sua Ressurreição precedida da descida ao lugar dos mortos, se assusta e busca o socorro maternal de Maria.

Perguntas para Reflexão

  1. Tome uma imagem do ícone, a mais fiel possível ao original, e comente em grupo os vários elementos e o que os gestos de Jesus e Maria lhe sugerem.
  2. Comente em grupo as imagens da Virgem do Perpétuo Socorro que você viu em vários lugares. Em que se parecem e em que se diferenciam? Como você acha que elas alimentam a fé das pessoas que as veneram em contextos tão diferentes?

Fabriciano Ferrero, C.Ss.R.
Madri
Fonte: Dicionário de Espiritualidade Redentorista

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