Afonso: continuar o exemplo de Cristo

Para apreciarmos de maneira correta a figura e a obra de Santo Afonso de Ligório (1696-1787), é necessário entrelaçar abordagens diversas, dada a riqueza da sua personalidade e as múltiplas facetas da sua atividade.
A caminhada do fundador da Congregação Redentorista teve início em 1723, quando, depois de uma causa injustamente perdida, o advogado Afonso decidiu deixar o fórum e dedicar-se totalmente a Cristo, experimentando-o como sentido da vida e fundamento seguro dos valores. A opção pelo sacerdócio e pela ordenação recebida em dezembro de 1726 fizeram-no imigrar para o mundo dos pobres: tornou-se advogado do direito deles à verdade (evangelização) e à santidade (sacramentos, a começar pelo da reconciliação). O passo decisivo surgiu da experiência da dureza do abandono em que se achavam os povoados do Sul da Itália: resolveu dedicar totalmente sua evangelização para “continuar” a copiosa redemptio de Cristo. Nasciam assim em Scala em 1732 aqueles que, a partir da aprovação pontifícia de 1749, seriam chamados de Redentoristas.
O itinerário para definir o rosto concreto da comunidade não foi fácil. Bem cedo Afonso teve de sofrer o abandono de alguns dos primeiros companheiros. Soube, porém, ficar fiel ao seu intento fundamental, enriquecendo-o com a contribuição dos que compartilharam com ele o nascimento da nova comunidade: Maria Celeste Crostarosa, com o seu projeto de comunidade memorial; Dom Tomás Falcoia, com a sua experiência de vida religiosa e o forte anseio missionário, projetado também para o Oriente; Januário Sarnelli, com a incansável e criativa dedicação aos pobres, também sob o aspecto social.
Afonso estava convicto da especificidade da própria comunidade, também em relação aos outros institutos missionários. Ao termo do completo itinerário de elaboração da legislação, sintetizava o seu “intento” nestes termos: “Para continuar o exemplo de nosso comum Salvador Jesus Cristo, de dedicar-se principalmente a ajudar os povoados da zona rural mais destituídos de socorros espirituais”. Será como outros institutos missionários, “mas com o distintivo absoluto de dever sempre situar suas igrejas e casas fora dos povoados e no meio das dioceses, a fim de ir viajando com mais prontidão com as missões pelos povoados ao redor; e também a fim de oferecer desta forma mais facilidade ao povo pobre de acorrer a ouvir a palavra divina e receber os sacramentos em suas igrejas”. [Spicilegium Historicum 16 (1968) 385].

Dedicação radical aos abandonados
Continuar o exemplo do Redentor deve ser entendido na perspectiva de participação e atualização: trata-se de continuar a obra misericordiosa de Cristo, ou seja, o seu encarnar-se para compartilhar de nossa condição de fraqueza; o seu fazer-se por nós testemunho/experiência do amor de Deus; a sua incessante procura dos necessitados da verdade e da cura. Tudo isto deixando-se guiar pelo Espírito que conduz a Igreja pelas mesmas estradas de Cristo (cf. Lumen gentium, n. 8).
Desde cerca de 1745 a dedicação radical aos abandonados transformou Afonso em escritor, empenhado em colocar ao alcance de todos um caminho para a santidade e por isso preocupado com a formação do clero, sobretudo no âmbito da teologia moral e da evangelização. Tornou-se, como escreveu João Paulo II, “o renovador da moral”, conseguindo indicar a estrada “do justo equilíbrio entre a severidade e a liberdade”, sintetizada com estas admiráveis palavras: “Aos homens não se deve impor coisas sob culpa grave, a não ser que o sugira uma razão evidente… Considerando a presente fragilidade da condição humana, nem sempre é verdade que seja mais seguro encaminhar as almas pela estrada mais estreita, enquanto vemos que a Igreja condenou tanto o laxismo como o rigorismo”. [Spiritus Domini, in AAS 79 (1987) 1367-1368].
De 1762 a 1775 Afonso foi bispo de Santa Ágata dos Godos (Benevento), continuando, porém, ao mesmo tempo o seu ofício de animação da comunidade redentorista e de escritor. Morreu em Pagani no dia 1° de agosto de 1787. Canonizado por Gregório XVI no dia 26 de maio de 1839, foi declarado Doutor da Igreja por Pio IX no dia 23 de março de 1871 e Patrono dos confessores e dos moralistas por Pio XII em 26 de abril de 1950.

Salvação da pessoa humana toda
A fidelidade dos Redentoristas ao intento afonsiano é assim expressa nas Constituições atuais: “A preferência pelas condições de necessidade pastoral ou pela evangelização propriamente dita e a opção em favor dos pobres constituem a própria razão de ser da Congregação na Igreja e o distintivo de sua fidelidade à vocação recebida”. Esse compromisso “visa a libertação e a salvação da pessoa humana toda. Os membros da Congregação têm como incumbência o anúncio explícito do Evangelho e a solidariedade com os pobres, a promoção de seus direitos fundamentais na justiça e na liberdade, com o emprego dos meios que sejam, ao mesmo tempo, conformes ao Evangelho e eficazes.” (n. 5).
Tudo isto é possível somente através de um êxodo incessante, em nível comunitário e pessoal. Os passos são os mesmos dados pelo Fundador: discernimento dos abandonados, inserção no meio deles, dedicação incondicional à sua evangelização. Deste modo os Redentoristas procuram recordar a toda a Igreja a necessidade de projetar constantemente sua presença e sua ação pastoral numa perspectiva missionária. Compartilhando das dificuldades dos abandonados, sentem-se estimulados, como Afonso, a traçar uma proposta de vida cristã, partindo da fragilidade humana, de modo que todos possam redescobrir e responder ao chamado universal à santidade.

Sabatino Majorano, C.Ss.R.
Nápoles
Fonte: Dicionário de Espiritualidade Redentorista

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