O verso inaugural do poema “O infante” do grande poeta português Fernando Pessoa, além de expressar uma verdade universal, pode, ainda que resumidamente, definir a história das Missões Redentoristas no Brasil.
Fundada 09 de novembro de 1732, em Scala, ao sul da Itália, a Congregação do Santíssimo Redentor, nasceu do desejo de seu fundador, Santo Afonso Maria de Ligório de colocar-se totalmente à serviço dos mais pobres e abandonados. Tal desejo tornou-se a missão dos redentoristas, levar, como Cristo, a Boa Nova aos pobres, pois é a eles a quem pertencem o Evangelho.
Quando, em 1º de agosto de 1787, seu nonagenário fundador entregou sua alma à Deus, todos os redentoristas eram italianos e por lá moravam, com a exceção de (São) Clemente Hofbauer e seu amigo Tadeu Huebl, que munidos do ardor missionário afonsiano levariam a Congregação para além dos Alpes.
Se as dificuldades enfrentadas por Santo Afonso ao fundar a Congregação Redentorista foram grandes, não menores foram as enfrentadas por São Clemente e seus companheiros na missão de levar o anúncio da Copiosa Redenção ao demais povos da terra. Privações materiais e perseguições políticas foram parte constante da vida cotidiana dos missionários redentoristas.
Passados 100 anos de sua fundação a Congregação Redentorista coloca seus pés para fora da Europa. Em 1832 os Redentoristas se estabelecem na América do Norte. Em 1882, chegam à Austrália. Em 1899 chegam os primeiros missionários Redentoristas na África. E em 1906 os filhos de Santo Afonso chegam à Ásia.
A vinda dos Redentoristas para o Brasil foi precedida de sete tentativas, ao longo de cinquenta anos, entre 1843 e 1893, de bispos e outra autoridades, dentre elas o próprio Dom Pedro II, Imperador do Brasil, que em 1843, atendendo à solicitação de Dom Antônio Viçoso, bispo de Mariana, intercedeu junto ao seu cunhado Fernando II, Rei de Nápoles, em prol do envio de padres missionários para sua diocese.
Começa a “aventura” no Brasil
Fato é que somente em 02 de julho de 1893 chegam ao Brasil os dois primeiros missionários Redentoristas, enviados da Província Holandesa, os padres Mathias Tulkens e Francisco Lohmeyer, para sondarem a viabilidade de uma Fundação Redentorista em terras tupiniquins.
Em 26 de abril de 1894, com a chegada de outros missionários redentoristas (padres e irmãos), foi canonicamente instalada a Missão Holândrico-Brasileira, na Casa intitulada “da Assunção da SS. Virgem”, em Juiz de Fora, MG, ou seja, na comunidade hoje conhecida como Paróquia da Glória. Passados nove anos, em 10 de fevereiro de 1903, em que muito se viu o incessante esforço do grupo de missionários redentoristas holandeses para se implantar em terras brasileiras, foi constituída a Vice Província do Rio de Janeiro, criando assim uma unidade provincial ligada à Província de Amsterdam.
O trabalho missionário desenvolvido pela Vice Província a partir de então foi incessante e dinâmico, inobstante às inúmeras dificuldades e desafios que iam surgindo. Novas Casas foram fundadas, Igrejas, conventos e seminários construídos, e, sobretudo, inúmeras Santas Missões pelos interiores à fora, reavivando a fé do povo brasileiro.
Nasce a Província do Rio
Chegado o tempo propício, a Província de Amsterdam, “Província Mãe”, vivendo sob os impactos do pós Segunda Guerra Mundial, entendeu que era o momento de emancipar sua filha. Assim, em 29 de junho de 1951, deu-se o nascimento canônico da Província do Rio de Janeiro, que até então administrada por sua “Província Mãe” passa a ter administração autônoma, sendo seu primeiro Superior Provincial o Reverendíssimo Padre Lucas Veeger, C.Ss.R..
De lá para cá, as dificuldades e desafios tem sido constantes e numerosos, porém nunca tão grandes que sejam capazes de abater o ânimo e o ardor missionário trazido das terras baixas da Holanda pelos filhos de Santo Afonso.
Qualquer que seja a organização humana que se pretenda sobreviver ao decorrer da história tem que estar em permanente processo de autocrítica e reinvenção. E essa foi uma constante nos 70 anos de caminhada da Província Redentorista do Rio de Janeiro e sob esta perspectiva que comemoramos esse ano jubilar de 2021-2022, que marcara o início do processo de reconfiguração junto à Província de São Paulo e a Vice-Província da Bahia na busca de soluções criativas em sua própria vocação missionária.
Novos caminhos e novas perspectivas se avizinham e é preciso munir-se da ardorosa missionariedade e esperança daqueles que nos precederam. Não existem caminhos prontos no anúncio do Evangelho, é preciso ousadia sempre! Que o Santíssimo Redentor nos ajude e Maria venha perpetuamente nos socorrer!
Uma história septuagenária!
Ao longo dos 70 anos desde que foi erigida canonicamente a Província Redentorista do Rio, o mundo mudou, surgiram novas formas de evangelização, mas a fidelidade ao carisma e à missão de anunciar a Copiosa Redenção se mantém firme. Em entrevista do Jornal Novo Tempo, o Superior Provincial dos Missionários Redentoristas dos Estados de Minas Gerais, Rio e Espírito Santo, Pe. Nelson Antônio Linhares, nos fala da alegria em celebrar este jubileu e dos desafios que o futuro nos reserva.
Novo Tempo – Como é chegar aos 70 anos, num mundo que tanto mudou nas últimas décadas e manter acesa a chama da Copiosa Redenção?
Pe. Nelson – Celebrar a memória desta caminhada Provincial reacende a esperança e fortalece a coragem para o seguimento. Vislumbrar esta história é aprender o sentido da busca, ser tocado pelo empenho de tantos confrades (holandeses e brasileiros) e leigos(as) que no emaranhado de dificuldades, desafios e circunstâncias oscilantes efetivaram projetos e criaram uma realidade.
Por isso, perceber tantas mudanças no mundo ao longo destes 70 anos nos faz perceber que uma Província se constrói na fidelidade ao carisma e à missão redentoristas. E trata-se de uma fidelidade criativa, ou seja, não é repetição do passado, mas deixar que o ideal Redentorista ilumine os desafios encontrados e faça surgir novas respostas.
Afinal, uma Província se constrói no afeto partilhado que gera concórdia e mútua caridade. Uma Província se constrói no brio de pertença a um grupo valoroso, fonte de estímulo à fidelidade e a um compromisso de vida em comum. Uma Província se constrói na solidariedade com os feridos da história, com gestos concretos de inclusão e cidadania.
- Qual o futuro da Província do Rio diante da reconfiguração, com a união com a Província de São Paulo e Vice-Província da Bahia?
- A celebração dos 70 anos nos alcança em tempos de reestruturação da Congregação Redentorista. Queremos consolidar e vivificar a trajetória atual que nossa Província vive. Trajetória de confiança: há futuro para nossa esperança! Queremos abrir uma estrada larga para o amanhã da reconfiguração com São Paulo e Bahia, na certeza de uma história bem traçada.
Portanto, a experiência da fé em Cristo Redentor nos afirma que este processo de reestruturação é um chamado de Deus a abrir fronteiras, a encarar desafios de crescimento na missão. O profeta Isaías nos adverte: “Alarga o espaço de tua tenda, estende a lona de tua morada sem poupar; alonga tuas cordas, firma bem tuas estacas… Não temas, porque não deverás mais envergonhar-te.” (Is 54, 2.4) - Como serão as comemorações destes 70 anos?
- Estamos declarando um “Ano do septuagenário”: de junho de 2021 a junho de 2022! A abertura será no dia 29 de junho – dia da ereção canônica da Província do Rio de Janeiro (1951) com uma Missa solene no Santuário São José, em Belo Horizonte. Esta Missa será transmitida pela TV Aparecida e TV Horizonte e poderá ser acompanhada por todos os fiéis que fazem parte da grande “Família Redentorista”.
Ao longo do ano, teremos uma programação variada, profunda e cheia de emoção: exposição, lançamento de livros, Assembleia comemorativa, brindes, selo próprio, lançamento do logotipo oficial, celebrações festivas e muito mais. Acompanhe esta programação pelo nosso site: provinciadorio.org.br e pelas redes sociais: @provinciadorio
A Província do Rio foi construída assim! Avante, pois! Mesmo em meio a esta pandemia que assusta e destrói vidas, vamos lá fazer o que será! A esperança vencerá!